O culto a performance
Viver virou uma corrida sem linha de chegada onde precisamos performar sempre. Mostrar resultados, cumprir metas, ganhar o grande prêmio e, claro, publicar tudo isso nas redes sociais, afinal você pode estar sendo uma inspiração para alguém (risos). A nossa vida mudou tanto nesses últimos 10 anos que mal conseguimos lembrar que um dia ter uma vida boa era simplesmente curtir uma praia, tomar café com pessoas especiais ou ler um livro sem pressa de terminar.
Por falar em livro, está aí uma coisa que se transformou no ápice da performance para agradar algoritmos de rede social. Ler deixou de ser um prazer para se tornar o desafio dos 52 livros por ano. Se exercitar virou prova de disciplina e até o ócio precisa de alguma forma comprovar, dicotomicamente (essa palavra existe?) que foi produtivo com geração de ideias e inspiração para um novo produto digital, ideia de vídeo, post e coisas afins.
Na era do culto a performance, escapar do palco das redes sociais está cada dia mais difícil. Se você, como eu, trabalha na área de marketing e comunicação sabe que se desligar por completo das redes sociais é uma tarefa muito difícil. Podemos até ter o nosso próprio perfil pessoal mais low profile, mas se desligar por completo é uma tarefa quase impossível. E com o passar dos anos só tem piorado pois precisamos estar sempre por dentro dos novos formatos de conteúdo, as novas tendências e saber quem são os influenciadores que mais engajam para uma possível parceria no futuro. Mas eu confesso que eu não sei quem são essas pessoas, tento me ater apenas aos criadores de conteúdo que fazem sentido para o segmento da empresa onde trabalho.
Todo esse emaranhado de redes nem sempre tão sociais, conteúdo, alto rendimento no trabalho e performance máxima na vida nos causa uma sensação de estarmos constantemente atrasados. Nos comparamos uns com os outros, olhamos para o resultado do colega ao lado e nos sentimos culpados por não estar “rendendo” tanto. Desenvolvemos uma certa dificuldade de curtir o presente, aproveitar o momento sem pensar em “como isso vai me ajudar no futuro” ou “o que eu ganho fazendo isso aqui.’’ Viramos um exército de gente cansada, ansiosa e com a sensação de que nunca faz o suficiente. Que futuro lindo estamos construindo, não?